sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pouco é muito

Toda mulher é feita de poucos. Pouco de fácil, de criança, de louca, de mãe, de puta, de macho, de freira, de poeta, de tudo.
Falo de mim, além do que tenho visto por aí. Toda mulher é feita de poucos.
Eu sou um pouco de tudo, eu quero um pouco de tudo.
Eu quis que ele ficasse afastado, depois quis andar de mãos dadas com ele. Eu quis que ninguém soubesse de tamanha traição. Depois quis gritar e me entregar pra pedir perdão.
Eu quis sentir o poder de deixá-lo triste. Depois quis que ele fosse feliz e que nem lembrasse o que é dor.
Eu quis ele por uma aventura, uma vontade, uma birra. Depois quis o beijo dele de novo e fiquei com o meu pouco fácil estampado na cara.
Eu tenho meu pouco criança evidente em cada brincadeira que faço, cada palavra que escrevo, cada pensamento.
Meu pouco louca? Nem sei bem onde esse pouco aparece, talvez mesclado junto com todos os outros poucos.
De pouco em pouco me completo, sem ser completada e não sou completa.
Eu nunca poderia ser feliz sem meu pouco ridícula. Eu nunca estou satisfeita sem meu pouco dramática e eu nunca poderei ser mulher porque ainda falta pouco, muito pouco, mas eu sei que falta.
Meu pouco puta, safada e tarada não têm um pingo de compostura. Meu pouco velha, freira e careta me limitam.
Meu pouco macho me dá coragem e me faz ter atitude, mas esse pouco é bem pouco mesmo.
Meu pouco poeta é romântico, me faz esperar palavras bonitas, beijos na chuva e telefonemas de boa-noite.
Meu pouco mãe é protetor, exagerado, responsável. Meu pouco carente é um pouco bastante.
Cada pouco meu espera muito. Espera o cara, o beijo acalmador, o olhar que compreende, o sorriso tranquilizante, o abraço reconfortante, as palavras benéficas. Mas meu pouco pessimista sabe que nada disso pode acontecer sem um pouco de sofrimento e angústia.
Corro no desespero de alguém pegar o é meu. Fico por medo da vida que virá depois dos sonhos realizados, da felicidade alcançada, do fim da busca. O que vem depois do "final feliz"?
O maior medo é de perder minha vez. Mas sigo com o meu pouco otimista, que a cada dia me diz que vai dar tudo certo, e afaga o meu pouco sonhadora.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Verdade

Ele perguntou se ela tinha medo de que ele fosse embora ou morresse.
Ela respondeu prontamente: “-Não.”
Ele espantou-se, a voz dela havia sido tão suave naquela negação. Um soco no estômago dado com elegância.
Mas ela logo continuou: “-Eu tenho medo de que você não seja feliz, amor, só disso...”

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Nada.

Às vezes eu fico parada, tentando voltar a lembrar de você e sorrir com um frio na barriga. Mas não consigo... só vem um nada. Não sinto nada. E isso que me aflige, porque eu sempre sinto, por pior que seja, eu sinto. Nem que seja nojo, eu preciso sentir. E quando não sinto, me estranho. Falta o balde d'água fria na cabeça ou o calor pelo corpo. A saudade ou o arrependimento. Vontade de voltar no tempo ou de fugir dele. E você fez com que eu não sentisse mais nada.
A pior parte é que você se foi e nem falou que ia, não me contou, não se despediu. E essa deve ser a razão pra esse nada. No começo, achei que fossem coincidências, desencontros. Depois veio a desilusão e então, o nada. Agora eu acho que é capaz que tenha sido tudo um sonho. O resto foi consequência por ter acordado achando que o sonho fosse real. Hoje até duvido que você exista, quando eu te encontro é como se não fosse você, não te reconheço, não te acho em você.
E ninguém mais tem graça, ninguém faz meu coração disparar, ninguém me faz sair andando pelas ruas sem destino, ninguém me faz fazer planos pro resto da minha vida, como se não me faltasse mais nada, ninguém me faz perder a respiração, ninguém me faz lembrar de alguma coisa e sorrir. Ninguém. Nem você.
E o que me deixa mais aflita ainda, é que eu não espero ninguém. Não espero que ninguém me faça sentir essas coisas de novo. Mas eu não quero esse nada. Não quero essa armadura. Prefiro chorar do que não sentir. Prefiro me machucar do que não brincar. Prefiro cair da bicicleta do que não poder pedalar.