segunda-feira, 13 de novembro de 2023

"Um homem pode fingir muitas coisas, mas não pode fingir o seu peso"

Por que enxergamos tantos defeitos na gente? Por que as pessoas se sentem à vontade para falar, comentar, opinar sobre os corpos dos outros?

Não sabemos a vida que tem por trás de cada um deles. Mesmo que sejamos próximos do outro, que achemos que o conhecemos muito bem, às vezes não sabemos das dificuldades, dos medos, das dores, dos gatilhos...
É muito difícil pra mim falar sobre meu corpo – e se eu já falei com você, provavelmente me viu chorando ou brigamos, pq eu simplesmente não consigo falar sobre o assunto. Diagnosticada com transtorno alimentar, compulsão e distúrbio de imagem, há quase dois anos comecei a terapia, e o principal assunto das sessões é sobre meu corpo, minha imagem, como os outros me veem, as queixas que eu tenho, as inseguranças etc.

Faço dieta desde que tenho uns 11 anos, ou seja, 2/3 da minha vida.
O meu refrigerante era diet, o meu bife não era à milanesa, o meu strogonoff era sem creme de leite, o meu hambúrguer era sem pão. Pra um dia, talvez, me sentir parte do todo; antes, eu tinha que ser ainda mais diferente do que já me sentia.

Outro dia fiz uma lista com todos os profissionais que já passei para tentar algum tratamento, foram 21, que eu me lembre, entre nutricionistas, endócrinos, nutrólogos e qualquer um que trabalhe com emagrecimento. Além de thetahealing, hipnose, acupuntura emocional, mandinga, Herbalife, jejum, remédios, massagem modeladora, laxante, criolipólise e sabe-se lá mais o quê...
Nunca tive nenhum problema de saúde, meu corpo não é um corpo gordo doente. Pra mim, sempre foi uma questão estética, até pouco tempo atrás, quando a vontade de engravidar e o medo de envelhecer e aparecerem problemas começaram a passar pela minha cabeça.
Mas não ter doenças não quer dizer que seja saudável. É triste, é difícil, é uma batalha silenciosa diária, é uma necessidade de aceitação que nunca encontrei, nem quando estava num peso bom. Vejo fotos e eu me escondia de vergonha do meu corpo mesmo naquela época.

Pouquíssima pessoas entendem o que é ter medo de ir a lugares novos por não saber como são as cadeiras de lá, de não caber nelas, ficar com vergonha de pedir para trocar com alguém e simplesmente se apertar ali por horas durante um jantar e ficar com o quadril com hematomas dos dois lados depois. Como é se sentir incomodando sempre que alguém senta ao seu lado, seja num ônibus, no metrô, no avião ou no sofá na casa de um amigo. Já me viu sentada no chão em algum lugar? Então, ali eu não incomodo, não invado o espaço de ninguém.

Mandei fazer meu vestido de noiva do zero porque não queria sentir a tristeza de experimentar modelos que não me serviam ou não foram pensados para corpos como o meu. Nem no momento que deveria ser de pura alegria, eu fui 100% feliz.
Ano passado, num casamento, uma pessoa desconhecida me falou que me olhava e lembrava daquela música “Minha casa não me define / Minha carne não me define / Eu sou meu próprio lar”, pq eu passava segurança de mim mesma APESAR do meu corpo. Ela achou que era um elogio? Quantas e quantas vezes já ouvi que tenho um rosto lindo. Como quem diz “o conjunto que é o problema”.

Enfim, um desabafo bem pessoal pra tentar trazer alguma reflexão. Cuidado com suas palavras, seus comentários. Não é um caminho fácil, não é só querer, não é só fechar a boca, não é falta de vergonha na cara. Não é sobre ser gordo ou magro, ter peito grande ou pequeno, perna grossa ou fina, ter o joelho x ou y; é sobre ter bom senso, empatia, respeito e educação. Somos todos diferentes, somos todos humanos e temos todos uma vida pra cuidar – a nossa própria.